Por Marcelo Valadares, neurocirurgião
Embora o Parkinson seja uma doença ainda sem cura, a ciência vem trabalhando continuamente em busca de tratamentos para estabilizar, atenuar ou até mesmo interromper a piora dos sintomas. Esta é a segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas acima dos 60 anos, atrás apenas do Alzheimer. Entre as muitas dúvidas, que vão além do diagnóstico, as formas de tratamento também deixam incertezas entre os pacientes. Será que a medicação é nossa única alternativa, ou existem outras opções?
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam que aproximadamente 2% da população mundial com idade superior a 65 anos tem a condição. Já no Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas sofram com ela. A origem do Parkinson está na perda de neurônios em um núcleo bem específico do cérebro chamado de Substância Negra (região onde os neurônios possuem um pigmento de cor muito escura, a neuromelanina), responsáveis pela produção de dopamina. Assim, os pacientes têm esses neurônios comprometidos, deixando de produzi-la. Os movimentos são afetados porque a dopamina, que ativa uma área do cérebro conhecida como corpo estriado, é uma das portas de entrada de um dos principais centros reguladores dos movimentos do corpo.
Entre os sintomas mais conhecidos da doença estão o tremor involuntário e a rigidez corporal que, normalmente, podem ser controlados com o uso da medicação adequada. Entretanto, com o passar dos anos, o remédio pode perder o efeito gradativamente ou ainda o paciente pode desenvolver efeitos colaterais pelo uso da medicação, causando transtornos ao parkinsoniano.
Embora ainda existam excelentes opções de medicamentos como a conhecida Levedopa, que revolucionou o tratamento e foi oficialmente aprovada em 1970, cerca de 20 a 30% dos pacientes podem ter efeitos adversos à terapia medicamentosa, principalmente, alguns anos após o uso, como movimentos involuntários, alucinação e delírios. Mesmo com o ajuste da dosagem, os sintomas podem atrapalhar a vida do paciente e o efeito dos fármacos fica cada vez mais curto.
Atualmente, uma das maiores esperanças da medicina em relação ao Parkinson é o aprimoramento da inovadora cirurgia intitulada DBS (do inglês, deep brain stimulation), que consiste na implantação cirúrgica de um dispositivo médico neuroestimulador, semelhante a um marca-passo cardíaco, auxiliando no controle dos principais sintomas da doença, que pode garantir a qualidade de vida dos pacientes.
A cirurgia é um recurso muito importante e deve ser considerada para alguns pacientes. Ela não é ainda a primeira linha de tratamento possível, mas é uma das melhores alternativas em casos de pacientes que passam a apresentar resistência às medicações já conhecidas, e pode reduzir os tremores em até 80%, além da rigidez e outros sintomas, quando bem indicada.
É importante lembrar que nem todos os pacientes com Parkinson apresentam os mesmos sinais. Entre os mais conhecidos, além do tremor involuntário e da rigidez corporal, estão: as dores musculares; a lentidão nos movimentos; a perda de expressões faciais; entre outros, como a constipação e a incontinência urinária. Alguns podem ter apenas um tremor leve e, outros, um pouco de rigidez no corpo. Uma minoria também pode apresentar alterações de memória e de comportamento, por exemplo.
Na última década, principalmente, a tecnologia foi capaz de proporcionar benefícios ao paciente sem precedentes de efeitos colaterais. Em meio a um momento de descobertas no campo das terapias gênicas, pesquisadores tem apresentado, com confiança, estudos que visam apresentar novidades.
Nestas pesquisas mais recentes, a proposta é autorregular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas e que tem queda intensa na Doença de Parkinson.
Além disto, o momento é também de lançamento para novas medicações de tratamento não apenas do Parkinson, mas também de outras doenças neurológicas. Esperamos contar no Brasil, em breve, com o ultrassom focado guiado por ressonância, que é uma ferramenta útil para tratar pacientes com tremor essencial e, também, o tremor do Parkinson, de uma forma menos invasiva.
Neste momento de ansiedade, os pacientes que buscam consultar especialistas estão sempre ansiosos por novidades. Enquanto isso, trabalhamos diariamente para aprimorar as técnicas e, com base em avaliações clínicas, adaptar a terapia com mais precisão às necessidades de cada um.
Marcelo Valadares é neurocirurgião, pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e médico do Hospital Israelita Albert Einstein.
Sobre o Dr. Marcelo Valadares:
Dr. Marcelo Valadares é médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein.
A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação, sendo que o neurocirurgião trabalha em São Paulo e em Campinas. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor.
O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos.
No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.