Neurocientista, Dr. Fabiano de Abreu, explica como a tecnologia pode influenciar negativamente no desenvolvimento da inteligência dos mais novos
A Campus Party é o maior evento de imersão tecnológica em Internet das Coisas, Blockchain, Cultura Maker e Empreendedorismo do mundo, é conhecida pelos participantes que vão acampar e acordam já imersos no mundo tecnológico. A edição de 2021, realizada em novembro, foi um sucesso absoluto tendo tido audiência de cerca de 700 mil pessoas nas plataformas digitais.
Em 2022, a Campus Party está prevista para acontecer nos dias 15 e 20 de Fevereiro, no Pavilhão de Exposições do Anhembi em São Paulo, além das outras edições de Brasília, nos dias 9 e 13 de Março, Goiânia, em 15 e 19 de Junho e Recife, durante o mês de setembro. O evento marcará a volta a realização presencial e terá o período pós-pandemia como um dos principais focos.
Além de estimular os conhecimentos sobre as tecnologias de última geração, em 2022, o evento pretende alertar sobre os perigos do uso excessivo da internet. O PhD em neurociências, biólogo e antropólogo Dr. Fabiano de Abreu, especialista em estudos sobre inteligência e membro de 4 sociedades de pessoas mais inteligentes do mundo, entre elas a Mensa Internacional e a restrita Triple Nine Society, acredita que a internet pode ser um fator agravante de ansiedade em um país que já é considerado o mais ansioso do mundo.
“As redes sociais funcionam como um refúgio, onde, somente a expectativa de um like, ou de qualquer reação, já causa a liberação do neurotransmissor também da “recompensa”, a dopamina. O problema é que a mesma cena não libera a mesma quantidade hormonal na mesma intensidade, precisando de mais e diferentes cenas elevando a ansiedade para mais e maior liberação. A dopamina é viciante, tanto que um ex-usuário de drogas tem abstinência ao deixar a substância já que ela não é mais liberada na mesma intensidade no organismo. São intensidades diferentes, mas o vício é gradativo. Por isso somos a sociedade mais ansiosa do mundo e a que mais passa horas no celular”, explica.
Nesse contexto, o especialista acredita que é um momento crucial para se ensinar sobre como utilizar a internet de maneira adequada.
“A internet tem diversos pontos favoráveis, como ter mais acesso ao conhecimento, conveniência, eliminar fronteiras, inicio de interação, chamo de inclusão social primária, já que temos que interagir de forma física também. Mas esses pontos favoráveis, como o conhecimento, por exemplo, não são exercidos. Na realidade, a sua dinâmica revela uma fadiga. Não apenas pelas consequências emocionais, como também pela economia de energia em pensar que a informação está sempre disponível, que pode buscá-la a qualquer momento, mas não busca já que a tomada de decisões está afetada”, explica.
Mesmo com tanta informação disponível a um clique, o neurocientista não acredita que os jovens de hoje podem ser considerados ‘mais inteligentes’ do que a geração anterior.
“Há um domínio tecnológico, com resposta dinâmica, mas rasa. É como se, ao buscar uma equação completa, só apresentasse a fórmula, mas sem o desenvolvimento e conclusão. Há uma dificuldade na criação, na memória permanente, trazendo memórias quase que apagadas do que poderia ser útil. A curiosidade se limita a um instantâneo imaginário, numa fantasia sem embasamento histórico e sem maturidade”, pontua.
Sobre as crianças de hoje serem mais inteligentes, leia o artigo de autoria do Dr. Fabiano de Abreu:
Temos que levar em consideração que o lobo frontal termina sua formação até os 24 anos de idade podendo chegar aos 30 a depender do indivíduo. Ou seja, os determinantes sobre esta região, não estão totalmente desenvolvidos assim como a cognição já que esta depende da experiência para sua evolução na mente, no cérebro. Ou seja, o fator desenvolvimento já limita a ideia de que estão mais inteligentes, comprovando que não estão. Testes de QI, por exemplo, que são os mais assertivos para determinar a inteligência lógica, a precursora, comprovaram que o QI dessa geração é menor e vem diminuindo, novamente comprovando que não estão mais inteligentes e sim possuem uma desenvoltura mais dinâmica em determinadas situações.
Há um domínio tecnológico, com resposta dinâmica, mas rasa. É como se, ao buscar uma equação completa, só apresentasse a fórmula, mas sem o desenvolvimento e conclusão. Há uma dificuldade na criação, na memória permanente, trazendo memórias quase que apagadas do que poderia ser útil. A curiosidade se limita a um instantâneo imaginário, numa fantasia sem embasamento histórico e sem maturidade. O foco atencional torna-se prejudicado e a tomada de decisões se limita ao panorama e sua dificuldade. Digo que não estão mais inteligentes, estão mais espertos, com argumentos limitados, assim como o conhecimento, vinculado a uma fácil desistência pela fadiga resultante das disfunções causadas pelos vícios da rede social e jogos em excesso.
Numa análise definitiva sobre a inteligência das crianças, basta observar, por exemplo, o que seriam os oito tipos de inteligência: lógico-matemática (habilidade para desenvolver equações, resolver cálculos e resolver problemas abstratos), linguística (permite analisar informações e desenvolver produtos de linguagem escrita e oral, como discursos e livros, sempre encontrando o melhor jeito de comunicar grandes ideias), musical (produzir, recordar, estabelecer sentido em diferentes padrões de sons), naturalista (ligação e habilidades com a natureza), corporal-cinestésica (capacidade de usar o próprio corpo com resultados eficazes), espacial (trabalhar o plano imaginário com eficiência, orientação de mapas, formas, medidas, etc), interpessoal (empatia, interação física, não julgamento), intrapessoal (se autoconhecer, autonomia, segurança na opinião, bom planejamento e prevenção).
Não sou muito adepto dos tipos de inteligência, pois há nuances principalmente em relação às regiões do cérebro que devem ser observadas. Como na inteligência DWRI, há o precursor que desenvolve o tipo de inteligência de acordo com fatores genéticos e ambientais. Mas, os tipos são válidos por serem personalidades comprovadas, assim como nesta lista acima não nos deparamos com a inteligência das crianças da atualidade, mostrando que não, não estão mais inteligentes, apenas possuem comportamentos diferentes que chamam a atenção, mas que, ao mesmo tempo, preocupam pela fragilidade emocional com que se relacionam com a vida real.
Sobre o Dr. Fabiano de Abreu
Prof. Dr. Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues é PhD em Neurociências, Mestre em Psicanálise, Doutor e Mestre em Ciências da Saúde nas áreas de Psicologia e Neurociências com formações também em neuropsicologia, licenciatura em biologia e em história, tecnólogo em antropologia, pós graduado em Programação Neurolinguística, Neuroplasticidade, Inteligência Artificial, Neurociência aplicada à Aprendizagem, Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica, MBA, autorrealização, propósito e sentido, Filosofia, Jornalismo, Programação em Python e formação profissional em Nutrição Clínica. Atualmente, é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International, diretor da MF Press Global, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e da Society for Neuroscience, maior sociedade de neurociências do mundo, nos Estados Unidos. Membro da Mensa International, Intertel e Triple Nine Society (TNS), associações e sociedade de pessoas de alto QI, esta última TNS, a mais restrita do mundo; especialista em estudos sobre comportamento humano e inteligência com mais de 100 estudos publicados.