A psicóloga Deise Moraes Saluti explica como a gordofobia afeta a saúde mental, o porquê de as pessoas cometerem esse preconceito e como lidar com ele
Não foi apenas no Big Brother Brasil 22 que as pessoas puderam ver relatos sobre gordofobia, onde o participante Tiago Abravanel contou que a obesidade vai além da estética, mas também está no cotidiano, quando não é possível passar em catracas ou o cinto do avião não fecha.
No Brasil, estamos falando de ao menos 41 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), que constatou a obesidade em uma de cada quatro pessoas com 18 anos ou mais.
Também conhecida como Fat-Shaming, a gordofobia, assim como outros tipos de preconceito, afeta drasticamente a saúde mental das vítimas.
Para a psicóloga Deise Moraes Saluti, que também é neuropsicopedagoga, falando de forma objetiva, se trata da fobia de pessoas gordas. “Ou seja, pessoas sem empatia costumam prejudicar outras pessoas para se afirmarem ou ganhar população. Muito encontrado nos colégios antigamente, hoje é vista principalmente entre alunos de 5ª a 8ª série onde as crianças, para construírem suas turminhas, riem e zombam de qualquer pessoa por qualquer tipo de diferença entre o grupo”.
Ela ressalta que, como qualquer outro tipo de preconceito, pode causar diversos tipos de transtornos ou, muitas vezes, traumas que podem ser irreversíveis, pois as pessoas que sofrem o preconceito podem tirar a própria vida, acreditando que viver não tem mais sentido.
“Para as pessoas que possuem a forma física acima de 25Kg/m² ainda são consideradas com sobrepeso, porém, acima de 30kg/m² já será considerado obeso e, para os preconceituosos, o fator determinante é afetar psicologicamente as pessoas com essas características e, em muitos casos, conseguem. Em outras situações, muitas pessoas obesas são mais felizes que talvez alguém com uma estrutura física magra”, pontua.
O que leva uma pessoa a praticar gordofobia?
Deise explica que pessoas com baixa autoestima tendem a ofender e tentar prejudicar psicologicamente o outro justamente para aliviar a dor emocional que sente e, dessa forma, inutilizam outras pessoas para se sentirem bem.
“No nosso País a prática ainda não é considerada crime, porém, a vítima pode denunciar por injúria e danos morais, então, juntar qualquer tipo de prova do ocorrido pode ser útil no tribunal, caso haja um possível processo”, lembra.
Para a profissional, nos dias de hoje a obesidade deixou de fazer parte da estética e é tratada como doença multifatorial, ou seja, ligada a fatores genéticos, metabólicos, sociais, ambientais e psicológicos do indivíduo.
“A maior preocupação de médicos e especialistas em obesidade é que os pacientes chegam sempre carregando muita culpa, que tudo ‘acontece somente por culpa dele’ e todos nós sabemos os fatores negativos que podem causar”, realça Deise.
Segundo a psicóloga, em todos os casos de sobrepeso, obesidade ou obesidade mórbida, a chegada ao consultório está sempre ligada a alguma infelicidade, pois quando o paciente não se aceita ou necessita de cuidados médicos, é porque atingiu seu limite. Entretanto, não é critério de tristeza e sim um dos fatores ou gatilhos e, claro, como qualquer tipo de tristeza, precisa ser tratada.
“Indico a qualquer pessoa que se sente de maneira culposa ou constrangedora a buscar um profissional da saúde mental, caso contrário, Tiago Abravanel está corretíssimo: achar que uma pessoa gorda não tem saúde é, além de indiscreto, uma grande ignorância”, finaliza.
Deise Moraes Saluti é psicóloga (CRP 06/154356), pós-graduada em Neuropsicopedagogia e Psicologia Infantil, além de especializada em atendimento de adolescentes e adultos. Na literatura, é coordenadora editorial do livro “Mulheres Invisíveis” (2021), da Ed. Conquista, sobre violência doméstica contra a mulher.
Para saber mais, acesse @dmspsicologia.