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A quimioterapia intraperitoneal tem mostrado eficácia promissora no câncer de ovário com carcinomatose peritoneal, mas a rápida depuração e a toxicidade das drogas anticancerígenas utilizadas neste tipo de tratamento ainda são alvo de estudos em todo o mundo.
O mais recente, publicado no último mês no periódico Biomaterials, por pesquisadores da Korea University, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Coreia (KIST), do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Samsung Medical Center e da University School of Medicine, todos eles em Seul, na Coreia do Sul, avaliou a utilização de nanopartículas de doxorrubicina específicas de catepsina B em câncer de ovário com carcinomatose peritoneal.
Com especificidade de câncer aprimorada e tempo de residência in vivo, os pesquisadores apontaram que as nanoparticulas injetadas intraperitonealmente se acumulam eficientemente dentro da carcinomatose através de direcionamento de penetração direta, independente da circulação, e acumulação sistêmica associada aos vasos sanguíneos, dependente da circulação.
Como resultado, o estudo concluiu que a quimioterapia intraperitoneal com nanopartículas inibe eficientemente a progressão do tumor, com efeitos colaterais reduzidos.
Carcinomatose Peritoneal
A carcinomatose peritoneal é a disseminação de tecidos cancerígenos na cavidade peritoneal. Esta manifestação é comum em cânceres do trato digestivo e ginecológicos, incluindo câncer de ovário, gástrico e colorretal. Estudos apontam que mais de 70% das pacientes com câncer de ovário evoluem para carcinomatose peritoneal, aumentando as taxas de mortalidade da doença e reduzindo consideravelmente a sobrevida destas pacientes.
O manejo da doença recorrente, que se espalhou além do ovário para a cavidade peritoneal, é um importante desafio para o tratamento do câncer de ovário. Segundo os pesquisadores, a quimioterapia intraperitoneal no tratamento destes casos permite a exposição de altas concentrações de drogas anticancerígenas por um longo período de tempo, levando a uma regressão tumoral eficaz e resultados favoráveis.
Para o Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, cirurgião geral e oncológico, coordenador do Centro de Doenças Peritoneais da Beneficência Portuguesa de São Paulo – BP, qualquer que seja a técnica utilizada, a cirurgia para a carcinomatose é extremamente agressiva e de alta complexidade, comparada a transplantes de órgãos.
“O procedimento visa a retirar toda a doença, o que pode levar muitas horas. O paciente passa alguns dias na UTI e depois segue internado por mais algum tempo até a alta hospitalar. Devido a complexidade do procedimento, esta cirurgia só deve ser realizada em centros com experiência neste procedimento, por equipes igualmente experientes”.
Benefícios das Nanopartículas
Segundo o estudo coreano, apesar do comprovado benefício clínico, a quimioterapia intraperitoneal não é amplamente utilizada devido à alta absorção tecidual de drogas anticancerígenas em direção aos órgãos não afetados, causando toxicidade local e sistêmica. Além disso, a penetração da droga também é limitada a 3 a 5 mm da região periférica dos tumores, limitando o procedimento a doenças residuais mínimas ou após a realização de cirurgia citorredutora.
No caso da utilização das nanopartículas, o objetivo é reduzir a toxicidade, permitindo o aumento da exposição tumoral de drogas anticâncer e melhora da eficácia.
Esta terapia pode ser melhorada através da quimioterapia em aerossol intraperitoneal pressurizada (PIPAC), que permite distribuição mais homogênea da droga, com penetração mais profunda nos nódulos tumorais peritoneais.
Os pesquisadores alertam, no entanto, que a liberação rápida e não específica de drogas anticancerígenas de nanopartículas na cavidade peritoneal e na corrente sanguínea pode induzir não apenas a toxicidade local, incluindo dor abdominal, formação de aderências e peritonite química, mas também a disfunção orgânica grave atribuída à toxicidade sistêmica.
O estudo está disponível na integra aqui.