A catarata é a principal causa de cegueira tratável. Mesmo assim, 33,6 milhões no mundo sofrem com a perda da visão, que poderia ser evitada com a cirurgia para a doença.
Enquanto globalmente a catarata representa 45% dos casos de cegueira, no Brasil a condição responde por 49% do total, de acordo com um estudo no periódico científico Lancet, o que mostra que os países mais pobres são os mais afetados por este problema de saúde ocular evitável.
Apesar de haver um alto índice de agravamento da doença entre os brasileiros, segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em 2019 foi realizado praticamente o dobro de cirurgias que em 2009 (601 mil versus 302 mil) por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).
Atualmente, a cirurgia de catarata é o procedimento de maior demanda no SUS. Há alguns fatores para tal, como o envelhecimento da população e o aumento da expectativa de vida no Brasil, uma vez que a catarata, na maioria das vezes, se trata de um processo de degeneração natural do cristalino.
Idealmente, o SUS deveria realizar ao menos 390 mil cirurgias de catarata/ano, e o setor privado outras 180 mil, para eliminar a cegueira instalada por esta doença ocular.
Para evitar que mais brasileiros cheguem ao estágio de cegueira, seriam necessárias 720 mil cirurgias de catarata anualmente, de acordo com o relatório “As Condições de Saúde Ocular no Brasil” do CBO.
Cuidados são necessários durante a pandemia
A despeito da Covid-19, a doença continua progredindo no Brasil.
O cenário, que vinha sendo positivo no combate à cegueira, mudou com o avanço da pandemia. O SUS realizou entre janeiro e maio de 2020, 83,8 mil procedimentos cirúrgicos ambulatoriais e 10,8 mil cirurgias com internações hospitalares a menos para os casos de catarata que no ano anterior.
Os especialistas que cuidam dos doentes já relatam que os pacientes têm buscado menos atendimentos com receio de se contaminar com o vírus e, quando buscam um médico, fazem isso tardiamente, quando a catarata já está em estágio avançado, com comprometimento da visão.
Buscando auxiliar as pessoas com problemas oculares em meio à pandemia, o CBO lançou o programa “Brasil que Enxerga”, no qual oftalmologistas voluntários oferecem orientações por meio da telemedicina.
Para os especialistas, não se pode negligenciar o tratamento das doenças oculares, pois as consequências são muito graves. Já o Ministério da Saúde adota uma posição de avaliação risco-benefício coletivo, e não individual, para consultas, exames ou cirurgias que não configuram casos de urgência e emergência.
No entanto, quem é afetado pela catarata pode representar um risco coletivo à população. É que a doença dobra o risco de acidentes no trânsito. Em um período no qual nem todo motorista está com a CNH em dia devido à interrupção dos exames de renovação, a doença se torna um verdadeiro perigo.
Como saber se é catarata?
Se o paciente está trocando frequentemente de óculos, tem dificuldade de dirigir à noite, enxerga halos ao redor da luz, apresenta visão embaçada e perda da visão de contraste, o diagnóstico pode ser de catarata.
Ao notar qualquer sintoma, a medida correta a ser tomada é buscar um médico rapidamente – mesmo durante a pandemia.
Embora a prevalência seja em pessoas acima dos 50 anos, os mais jovens que apresentam distúrbios metabólicos como diabetes, colesterol alto ou alteração na produção dos hormônios sexuais também podem ter aglomerações de proteínas no cristalino típicas da doença.
A catarata também pode ser traumática, relacionada a algum ferimento no olho, bem como herança genética e o uso contínuo de corticóide, além da catarata congênita, que é a maior causa de perda da visão nos recém-nascidos.
Operar ou não operar, eis a questão
A catarata é uma doença progressiva que pode deixar o indivíduo cego se não for devidamente tratada.
Atualmente, o único tratamento capaz de curar de vez o problema é a cirurgia de catarata. Até que o procedimento possa ser realizado, é comum que os médicos indiquem o uso de óculos, lentes de contato e colírios de forma paliativa.
A cirurgia de catarata é feita com um laser e um moderno método de facoemulsificação. São realizadas incisões no olho para diluir a catarata e inserir uma lente intraocular. A reabilitação da visão é praticamente imediata: em poucas horas o paciente volta a enxergar perfeitamente.
O paciente com catarata que tem indicação para realizar a cirurgia deve fazê-la sem medo.
A cirurgia de catarata foi um dos procedimentos médicos que mais evoluiu no mundo – há algumas décadas, mesmo após a operação ainda era preciso usar óculos “fundo de garrafa”. Desde 2013, felizmente, com infraestrutura e profissionais adequados, bem como um pós-operatório cuidadoso, o procedimento é altamente eficaz e seguro.
A maior parte das cirurgias de catarata ocorre sem complicações. Quando existem, elas variam de inflamação ocular à perda da visão, além da chamada catarata secundária – problemas raros e que podem ser facilmente solucionados.
As complicações são mais comuns em crianças, mas até mesmo para os casos congênitos já está sendo desenvolvida uma nova técnica que não necessita da substituição da lente natural do olho.
Se não for realizada, os riscos são ainda mais graves, pois o comprometimento da visão tende a se agravar aos poucos e levar à cegueira. Com a visão defasada, a pessoa pode sofrer e/ou causar acidentes em casa e/ou na rua, ter depressão e perder a liberdade que sempre teve.
Quem sofre com a doença pode evitar entrar nas estatísticas. A cirurgia de catarata é a melhor opção, desde que seja devidamente indicada por um oftalmologista. Apesar dos riscos, realizá-la é sinônimo de qualidade de vida, independente da idade do paciente.