Evitar doenças antes mesmo de elas acontecerem é um ideal da ciência que pode estar cada vez mais nas mãos das gestantes por meio da programação metabólica. Divulgado recentemente, um estudo do Anschutz Medical Campus da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, descobriu que há uma relação direta entre a placenta e obesidade, diabetes e até doenças cardiovasculares na infância e na fase adulta.
A médica Jordanna Leão, que tem mais de 10 anos de experiência em acompanhamento gestacional, reforça que as atitudes da mãe na gravidez são fundamentais para assegurar a função placentária de enviar nutrientes da forma certa para o bebê.
“Hoje um conceito muito debatido é a programação metabólica. Através da epigenética conseguimos comprovar que a forma como a gestante se alimenta, suplementa e até o horário em que dorme têm impactos imensos na saúde do feto na vida adulta”, explica a médica.
Diante disso, Jordanna destaca que esses efeitos evidenciam a importância de se entender a diferença entre uma dieta rica em produtos industrializados – como salgadinhos, por exemplo – ou à base de legumes. “Principalmente nesse momento em que o futuro é incerto devido à pandemia. É preciso fazer o melhor para desenvolvermos a saúde dos nossos filhos”, pontua.
Benefícios da programação metabólica
O estudo revelou, por exemplo, que um dos receptores de proteína placentários está associado com a hipertrigliceridemia em crianças, o que pode levar à obesidade ou ao diabetes mais tarde. Além disso, outras proteínas na placenta apresentaram relação com o aumento de tecido adiposo nos braços e coxas desses bebês.
De acordo com os pesquisadores responsáveis, todas as conclusões extraídas do novo estudo mostram um elo inédito entre a função placentária e os resultados metabólicos de longo prazo. A partir disso, eles exemplificam que um médico passa a poder intervir se perceber que a placenta não está funcionando como deveria durante a gravidez.
Atenção redobrada na gestação
Embora já existissem evidências de que alguns distúrbios pudessem ser causados por problemas na vida fetal, o pesquisadores à frente do novo estudo encontraram pela primeira vez uma relação direta entre a função placentária e pressão arterial, gordura corporal e níveis de triglicerídeos em crianças.
Como esclarece a pesquisa, esses marcadores são sinais comuns de doenças futuras como cardiopatias e obesidade. Um ambiente intrauterino saudável é determinado pela placenta, que tem a função nutrir o feto e o protegê-lo contra o sistema imune da mãe.
Assim, a médica Jordanna Leão reforça que mudanças nesse ambiente, como inflamação ou alterações no nível de insulina, podem criar um cenário propício para doenças futuras. Dentre as principais causas para isso, ele lista algumas que podem ser evitadas pela mãe.
“Tabagismo, alcoolismo, intoxicação, infecção corporal, obesidade, maus hábitos alimentares e crises de ansiedade e estresse tão comuns hoje em dia são causas de envelhecimento precoce da placenta”, afirma.
Futuro mais saudável
Ainda que o tratamento de mulheres grávidas seja complicado, a placenta é acessível para os profissionais de saúde. Assim, a médica explica que monitorar essas alterações pode contribuir para intervenções capazes de reduzir o risco para o feto.
Mais do que isso, a compreensão do mecanismo ligando a função placentária ao risco de doenças metabólicas na infância e idade adulta eventualmente oferece métodos inovadores de como tratá-las nas gerações futuras.