Pular para o conteúdo

Doença de Alzheimer: estudo aponta desafios dos sistemas de saúde para avaliar, diagnosticar e tratar pacientes

  • Envelhecimento é o principal fator de risco da doença[1]
  • No Brasil, relação entre a porcentagem de idosos e de jovens deve aumentar de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060[2]
  • Enfermidade traz impactos sociais e econômicos significativos

 

São Paulo, outubro de 2020 – Não é preciso ir muito longe para se deparar com a doença de Alzheimer (DA). Muito provavelmente você tem alguém do seu círculo familiar ou mesmo da sua rede de amigos que foi diagnosticado com a condição, que é neurológica, progressiva e fatal e a forma mais comum de demência, correspondendo a 60 – 70% dos casos[3]. “Atualmente, um bilhão de pessoas são afetadas por doenças neurológicas, 13% de toda a população global. É um número alto. Além de alertar sobre a condição, é muito importante lembrar que a doença de Alzheimer não afeta só quem tem a doença, a condição impacta toda a família”, explica Douglas Moraes da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz).

Os impactos do Alzheimer vão além do âmbito familiar. A carga das doenças neurológicas impõe aos governos uma crescente demanda por serviços de tratamento, reabilitação e apoio. Um estudo, que avaliou a infraestrutura dos sistemas de saúde em seis países na Europa (França, Alemanha, Itália, Espanha, Suécia e Reino Unido) apontou que o tempo de espera para avaliação da população que já apresenta transtornos leve de cognição, um dos sintomas da DA, pode variar de 5 a 19 meses. De acordo com o levantamento, só em 2030 não haveria espera para atendimento na Alemanha. Na França, Reino Unido e Espanha demoraria ainda mais para os sistemas atingirem prontidão no atendimento – seria só em 2033, 2042 e 2044, respectivamente[4].

“Não tenho conhecimento de que exista um levantamento no Brasil neste sentido, mas certamente os desafios não seriam diferentes”, reforça Douglas Moraes. De acordo com o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida do brasileiro aumentou de 73,9 para 76,3 anos[5]. Segundo o órgão, a relação entre a porcentagem de idosos e de jovens – chamada de índice de envelhecimento – deve aumentar de 43,19%, em 2018, para 173,47%, em 2060[2].

Há também outros aspectos relacionados à DA que merecem atenção. Em 2030, a estimativa é que o custo social total da doença seja equivalente a 2,2% do produto interno bruto (PIB) global[6]. As despesas indiretas (relacionadas ao impacto na vida do próprio cuidador) podem representar até 169% da renda familiar[7].

A taxa de prevalência média de demência na população idosa brasileira é de cerca de 7,6%[8], um percentual maior que o índice mundial[9]. O neurologista, Rodrigo Rizek Schultz, destaca que a doença de Alzheimer é complexa, assim como outras demências, e reforça a importância de estar atento aos indícios. “Se houver, por exemplo, perda de memória recente, dificuldade para dirigir e repetição de perguntas, é importante procurar ajuda médica. A identificação da doença Alzheimer no início, assim como o tratamento adequado, são fundamentais para possibilitar o alívio dos sintomas e a estabilização ou retardo da progressão da doença”.

A causa ainda é desconhecida e o diagnóstico é feito por exclusão. O especialista reforça que a doença é desafiadora, por isso a ajuda dos familiares e profissionais de saúde é fundamental. “Além do tratamento orientado pelo médico e de uma abordagem multidisciplinar, há recomendações que podem facilitar a vida de quem tem Alzheimer e do cuidador. Como, por exemplo, estabelecer uma rotina diária, espalhar lembretes pela casa – apague a luz, feche a torneira, desligue a TV etc. – e, quando possível, encorajar a pessoa a vestir-se, comer, ir ao banheiro, tomar banho por sua própria conta”, finaliza.

Saiba mais sobre o Alzheimer[10]: a doença se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, pelo comprometimento das atividades de vida diária e consequente independência do indivíduo, e por uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais que se agravam ao longo do tempo. Os principais sinais e sintomas são perda de memória recente; repetir a mesma pergunta várias vezes; dificuldade para acompanhar conversações ou pensamentos complexos; incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas; dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos; dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais e irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade, interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos, tendência ao isolamento. O quadro clínico da doença é dividido em quatro estágios. Forma inicial (estágio 1): alterações na memória, na personalidade e nas habilidades visuais e espaciais. Forma moderada (estágio 2): dificuldade para falar, realizar tarefas simples e coordenar movimentos. Agitação e insônia. Forma grave (estágio 3): resistência à execução de tarefas diárias. Incontinência urinária e fecal. Dificuldade para comer. Deficiência motora progressiva. Forma grave avançada (estágio 4): restrição ao leito. Mutismo. Dor à deglutição. Infecções intercorrentes.

[1] World Health Organization. Dementia Fact Sheet [Internet]. Dementia Fact Sheet. 2019 [cited 2020 Mar 30]. Available from: http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia
[2] Censo 2020 [Internet]. Disponível em: http://censo2020.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html
[3] World Health Organization. Dementia Fact Sheet [Internet]. Dementia Fact Sheet. 2019 [cited 2020 Mar 30]. Available from: http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia
[4] Rand Corporation [Internet]. Disponível em: http://www.rand.org/pubs/research_reports/RR2503.html
[5] Censo 2020 [Internet]. Disponível em: http://censo2020.ibge.gov.br/2012-agencia-de-noticias/noticias/24036-idosos-indicam-caminhos-para-uma-melhor-idade.html
[6] World Health Organization. Dementia Fact Sheet [Internet]. Dementia Fact Sheet. 2019 [cited 2020 Mar 30]. Available from: http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia
[7] Ferretti C, Sarti FM, Nitrini R, Ferreira FF, Brucki SMD. Custos indiretos com demência: um estudo brasileiro [An assessment of direct and indirect costs of dementia in Brazil]. PLoS One [Internet]. 2018;13(3):e0193209. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1980-57642015000100042&script=sci_abstract&tlng=pt
[8] Burla C, Camarano AA, Kanso S, Fernandes D, Nunes R. Panorama prospectivo das demências no Brasil: um enfoque demográfico [A perspective overview of dementia in Brazil: a demographic approach]. Cien Saude Colet [Internet]. 2013 Oct;18(10):2949-56. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232013001000019
[9] Gutierrez BAO, Silva HS da, Guimaraes C, Campino AC. Impacto econômico da doença de Alzheimer no Brasil: é possível melhorar a assistência e reduzir custos? [Economic impact of Alzheimer’s Disease in Brazil: is it possible to improve care and minimize costs?]. Cien Saude Colet [Internet]. 2014 Nov;19(11):4479-86. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232014001104479&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
[10] Ministério da Saúde. Alzheimer: o que é, causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção [Internet]. [cited 2020 Mar 31]. Disponível em: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/alzheimer