Medo, tristeza, raiva e solidão, ansiedade e estresse, esses são exemplos de sentimentos e emoções negativas que podem surgir no atual cenário de pandemia da COVID-19, provocada pelo vírus SARSCoV-2.
Com objetivo de orientar e ajudar as pessoas a lidar com o desconforto emocional provocado pelo distanciamento físico, a mudança na rotina e mesmo o excesso de notícias sobre a pandemia, um grupo de pesquisa da área de Psicologia da PUC-Campinas e da PUC do Rio Grande do Sul elaborou a “Cartilha para enfrentamento do estresse em tempos de pandemia“.
Com distribuição gratuita e disponível no site da PUC-Campinas e da PUC-RS, a Cartilha reúne um conjunto de orientações baseadas em parâmetros científicos e com uma linguagem simples e acessível.
“Essa cartilha é um exemplo da nossa crença de que a pesquisa científica desenvolvida na Universidade deve direcionar esforços para construir novos conhecimentos para melhorar a vida das pessoas”, afirma a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas, Vera Engler Cury Vera.
Clique para ver em:
https://www.puc-campinas.edu. br/wp-content/uploads/2020/04/ cartilha-enfrentamento-do- estresse.pdf.pdf
https://www.puc-campinas.edu.
Do grupo que se reuniu para o desenvolvimento da cartilha, surgiu uma força-tarefa – PsiCOVIDa- que já conta com mais de 100 integrantes entre pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação, profissionais de diversas áreas e professores.
“Estamos com cerca de 20 produtos sendo desenvolvidos por times de trabalho”, explica Sônia Regina Fiorim Enumo, docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da PUC-Campinas e que participou desse projeto. A cartilha está sendo traduzida para o inglês e espanhol, para posteriormente distribuição gratuita por meio de universidades e entidades científicas.
“Estamos no meio de uma crise que tem gerado um nível alto de excitação mental enorme, mesmo com o isolamento. É um grande desafio para o que chamamos de auto regulação. As orientações que damos nessa Cartilha podem ajudar nesse processo”, acredita Sônia.
O que fazer
O estresse pode surgir a partir de inúmeros fatores, que variam de pessoa para pessoa. De uma forma mais geral, no entanto, ele pode ocorrer quando as necessidades psicológicas básicas (NPB) de relacionamento, competência e autonomia são ameaçadas ou desafiadas.
“As respostas voluntárias e involuntárias de estresse e ansiedade que damos nessas situações podem ter resultados adaptativos ou mal adaptativos na saúde física e mental”, aponta Sônia. Por exemplo, se apresentamos mais respostas involuntárias, quer dizer que estamos apenas reagindo à situação, tendo pouco controle sobre nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos frente ao estresse.
Dessa forma, podemos ter mais dificuldade para lidar com os acontecimentos. A situação apresentada a seguir é um exemplo: ter pensamentos repetitivos, que invadem a nossa mente de forma automática atrapalhando nas nossas atividades cotidianas, como conseguir dormir ou prestar atenção em algum assunto.
Nas respostas voluntárias, temos maior controle sobre nós mesmos frente às situações estressantes e que causam ansiedade. Esse tipo de enfrentamento do estresse permite que possamos reagir de forma a superar as dificuldades com mais facilidade.
Um exemplo que ilustra essa situação é o seguinte: fazer chamadas de vídeo para pessoas importantes, que consigam acolher os seus sentimentos. Esse comportamento pode promover a sensação de proximidade, mesmo que as pessoas estejam fisicamente afastadas.
Segundo Sônia, é importante também conversar com as pessoas da família, compartilhar os sentimentos, buscando gerar um clima emocional saudável em casa, já que todos estão juntos, dividindo esse espaço por várias horas, o que para algumas famílias é algo novo.
Ela menciona ainda um cuidado com as crianças e os idosos: “A criança sente que há algo diferente. É importante explicar a situação de pandemia em uma linguagem que ela entenda. Tão importante quanto proporcionar atividades lúdicas e estabelecer uma rotina para os filhos para estabelecer uma organização na vida deles”, indica.
Com relação aos idosos, grupo de risco para a Covid-19, é fundamental reduzir os fatores estressores, por exemplo, com uma filtragem das informações que chegam até eles. “Podemos ajudar a escolher programas na TV, conversar sobre outros assuntos e temas que não só a diferentes, para aliviar a rotina deles”, diz.
Redes sociais
Outro desafio é lidar com a enxurrada de notícias sobre a pandemia. O ideal, segundo Sonia, é evitar ver notícias o tempo todo, escolher algumas horas do dia para se informar.
“Mais do que nunca esse é um momento para filtrar, questionar e, principalmente, não disseminar informações de fontes não confiáveis”, aponta. As redes sociais, nesse contexto, devem ser um canal para demonstrar cuidado e apreço pelo outro. “Elas devem ser um meio de promoção de afetividade e de coisas positivas”, finaliza.
Por Patricia Mariuzzo