Segundo dados do Ministério da Saúde, aproximadamente 10% dos brasileiros fumam – o que significa que temos uma população de cerca de 20 milhões de fumantes no país. Em comparação com os dados mundiais o Brasil mostra redução da população tabagista em decorrência das campanhas e proibições desde a década de 90, entretanto o número absoluto de tabagistas ainda é alarmante – 20 milhões.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), 20% das pessoas do mundo fumam, e um em cada cinco desses indivíduos não sabe que existe uma relação entre o vício em cigarros e doenças como o câncer ou as do sistema cardiovascular.
Mas a ligação entre o fumo e o desenvolvimento de problemas de saúde existe e é forte: ainda segundo a OMS, 7 milhões de pessoas morrem por ano no mundo devido a doenças causadas pelo tabaco, e 12% são fumantes passivos. No Brasil, são 400 mortes por dia (ou 146 mil por ano) decorrentes do tabagismo.
A seguir, com a ajuda da oncologista clínica Mariana Laloni, do Centro Paulista de Oncologia, do Grupo Oncoclínicas de São Paulo e com informações do Inca (Instituto Nacional de Câncer) e da OMS, esclarecemos dez dúvidas sobre a relação entre fumo e câncer.
Em que medida o fumo aumenta o risco de câncer de pulmão?
O tabagismo é diretamente relacionado ao câncer de pulmão e aumenta em aproximadamente 20 a 30 vezes o risco de desenvolver esta doença.
Quais são os principais sintomas do câncer de pulmão?
Infelizmente o câncer de pulmão nas fases iniciais, onde a chance de cura é maior é silencioso, ou seja, não apresenta sintomas. Em fases mais avançadas os sintomas estão relacionados ao próprio aparelho respiratório, como tosse, falta de ar e dor no peito.
Quais são os principais tipos de câncer de pulmão?
Existem dois tipos: o carcinoma de pequenas células e de não pequenas células. O segundo corresponde a 85% dos casos e se divide em carcinoma epidermóide, carcinoma de grandes células e adenocarcinoma – este último é o mais comum e representa quase 50% dos pacientes com câncer de pulmão.
Como é o tratamento para câncer de pulmão?
O tratamento depende da fase da doença. A cirurgia é o tratamento de escolha para casos iniciais. As técnicas minimamente invasivas com vídeo e robótica melhoraram os desfechos do tratamento cirúrgico, com menor tempo de internação. Para pacientes que apresentam contra-indicações para a cirurgia a radiocirurgia pode ser uma alternativa. A quimioterapia complementar (adjuvante) ao tratamento cirúrgico pode estar indocada para alguns pacientes – a intenção é de destruir células tumorais microscópicas residuais que ainda possam estar circulando no paciente. Para pacientes diagnosticados em uma fase mais adiantada a combinação de radioterapia com quimioterapia seguida de imunoterapia é uma excelente opção de tratamento.
Para pacientes não candidatos ao tratamento loco regional com cirurgia e radioterapia ou combinação de terapias, o tratamento é sistêmico. Isso pode incluir imunoterapia isolada, imunoterapia associada a quimioterapia, quimioterapia ou droga alvo direcionada para alguma mutação específica do câncer de pulmão.
A imunoterapia é uma modalidade de tratamento que ativa o próprio sistema imunológico do paciente para que ele consiga combater as células do câncer.
Além do câncer de pulmão, o tabagismo aumenta o risco de outros tipos de câncer?
Sim, o fumo aumenta especialmente o risco de câncer de cabeça e pescoço, boca, laringe, faringe e bexiga.
Quais são os principais elementos cancerígenos dos cigarros convencionais?
São quase cem substâncias cancerígenas, entre elas monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, nicotina e alcatrão. A principal e mais perigosa em termos cancerígenos é a nicotina.
Qual dessas substâncias causa dependência em cigarros?
É justamente a nicotina, uma substância psicoativa que produz a sensação de prazer e pode levar ao vício. A dependência à nicotina faz parte da CID (Classificação Internacional de Doenças) da OMS.
O cigarro eletrônico também aumenta o risco de câncer de pulmão?
O cigarro eletrônico vaporiza um líquido que contém uma grande quantidade de nicotina. Porém, ainda não é sabida a extensão do impacto dele no desenvolvimento de cânceres, devido ao tempo de existência desses dispositivos e também porque seu uso é muito variado: há pessoas que fumam apenas ele, outras que consomem cigarros eletrônico e convencional, aquelas que nunca fumaram cigarro convencional e foram direto para o eletrônico, as que substituíram o convencional pelo eletrônico.
Depois de quanto tempo sem fumar há a diminuição do risco de desenvolvimento de cânceres ligados à nicotina?
Os benefícios à saúde são perceptíveis em horas e dias, e o risco de desenvolvimento de cânceres diminui com o passar dos anos. Após 10 anos longe dos cigarros a pessoa pode se considerar com um baixo risco. Mas dependendo da carga tabágica (número de maços por dia multiplicado pelo número de anos que a pessoa fumou) a vigilância sempre deve acontecer.
Que impacto haveria nos diagnósticos de câncer se todos os fumantes do mundo conseguissem se livrar do vício agora?
O principal impacto seria a diminuição de aproximadamente 33% do número de casos de câncer diagnosticados. E ao longo do tempo uma redução ainda mais expressiva.