O Estado de São Paulo possui grande representatividade na produção, consumo e exportação de cachaça. Segundo dados do Ministério da Economia, em 2018, a exportação brasileira da bebida foi de 8,6 milhões de litros, sendo oito milhões de litros exportados pelo estado, aproximadamente.
Dada a relevância deste setor e o potencial de crescimento da cachaça de alambique, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), realizará o curso de extensão Produção Artesanal de Cachaça: “Da cana ao copo”, em 24 de agosto de 2019, a partir das 8h, em Bauru, interior paulista.
O evento, destinado a produtores rurais, interessados na produção de cachaça e engenheiros agrônomos, tem o objetivo de levar conhecimento científico sobre todas as etapas da produção de cachaça de alambique, também conhecida como cachaça artesanal pelos consumidores. “O curso visa levar atualização tecnológica para melhorar o processo para os produtores e interessados na produção de cachaça de alambique. Além disso, vamos abordar temas referentes à comercialização, formalização e nova tributação”, explica Elisangela Marques Jeronimo Torres, pesquisadora da APTA.
A questão tributária é um ponto importante da produção de cachaça. Raquel Nakazato Pinotti, pesquisadora da APTA, explica que em janeiro de 2018 entrou em vigor a possibilidade do enquadramento dos produtores de cachaça de alambique no regime tributário Simples Nacional. Antes, a cachaça era tributada independente do seu volume de produção, o que resultava em taxações similares para cachaça industrial e de alambique.
“Esta era uma demanda do setor, pois a cachaça industrial, devido ao volume de produção, tem custo unitário muito diferente da cachaça de alambique, produzida de forma mais artesanal. Com o enquadramento da cachaça de alambique no Simples Nacional, o setor estima redução dos impostos sobre o produto, dependendo do estado e do faturamento do produtor, em 60 a 80%”, explica.
Para Raquel, a redução da taxação traz fôlego aos pequenos e médios produtores – maioritários no ramo – e os ajuda a buscar pela formalização da produção perante o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Segundo o Censo Agropecuário do IBGE de 2017, existem 11 mil produtores, aproximadamente, de aguardente de cana-de-açúcar do Brasil – o que inclui a cachaça –, porém, apenas 1,5 mil são registrados no Ministério.
“A nova tributação poderá ajudar esses produtores a se formalizarem diante do Governo, cujo ponto chave é o acesso ao mercado”, afirma Raquel. Ela explica que a informalidade impede que os produtores de cachaça comercializem seus produtos para cidades vizinhas, outros estados e até mesmo países, reduzindo a inserção do produto no mercado local. “Outro fator importante é que a produção de cachaça, assim como a de alimentos e outras bebidas, precisa seguir normas de boas práticas na fabricação, disponibilizando um produto seguro aos consumidores”, explica Elisangela.
“Nos últimos dez anos, o volume de exportação de cachaça pelo Brasil caiu, mas o valor obtido foi mantido, o que mostra que o País tem exportado produtos de maior qualidade e valor agregado para o exterior. Temos potencial para abrir novos mercados, principalmente na Europa e Estados Unidos. Isso, porém, será possível com a formalização da produção e estruturação organizacional da cadeia produtiva”, afirma Raquel. Em 2018, de acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, os maiores compradores de cachaça brasileira foram Estados Unidos (20%), Alemanha (16%), Paraguai (13%) e Portugal (8,6%). O Brasil exporta apenas 1% da sua produção total anual.
Cachaça paulista tem alta qualidade
Além do volume de produção e de exportação, o estado de São Paulo se destaca pela alta qualidade de seu produto. Já reconhecido pela produção industrial da bebida, os produtores paulistas estão investindo na qualidade e diferenciação de produtos da cachaça de alambique. “As cachaças paulistas têm ótima qualidade e estão sendo reconhecidas em concursos nacionais e internacionais de destilados. O estado também abriga os grandes centros de pesquisa e universidades na área”, afirma Raquel.
Há mais de dez anos, a APTA desenvolve pesquisas científicas na produção de cachaça. Segundo Elisangela, a produção evoluiu muito nesse período, com incorporação de novas tecnologias pelos produtores e o status da bebida perante o consumidor. A produção paulista, segundo as cientistas, está alicerçada em dois tipos de produtores: os tradicionais, que produzem cachaça há várias gerações, e os que começaram a produção do zero, com volume considerável de investimento. Ambos são abertos a incorporação de novas tecnologias e mudanças de mercado e de produtos.
“Em 2008, participamos da equipe de um projeto de pesquisa que objetivou diagnosticar o perfil da produção de cachaça no estado de São Paulo, financiado pela FAPESP. Os dados levantados mostraram como estava organizado o setor da cachaça. Dez anos depois percebemos que ocorreu uma grande melhora no processo produtivo, na composição e qualidade sensorial da bebida, além da apresentação do produto final”, afirma Elisangela. A pesquisadora da APTA explica que as exigências e expectativas do mercado consumidor também mudaram, com consumidores dispostos a pagar mais caro por cachaça de qualidade, além da apreciação e consumo da bebida em restaurantes, eventos comemorativos e culinária gourmet. “A cachaça também passou a ser usada para presentear amigos. A bebida brasileira começou a ter o mesmo status do uísque e outras bebidas finas”, afirma.
A produção de cachaça de alambique é considerada uma importante forma de agregação de valor à produção de cana-de-açúcar. Segundo Raquel, a grande vantagem estratégica da cachaça está em que o produto não possui prazo de validade e limitação logística para a comercialização, proporcionando mais autonomia ao produtor, que pode produzir a bebida em momentos de dificuldade de comercialização, seja por preço ou comprador, conseguindo estocar o produto e possibilitando a obtenção de maior rentabilidade.
Produção Artesanal de Cachaça: “Da cana ao copo”
O curso de extensão Produção Artesanal de Cachaça: “Da cana ao copo” acontecerá em 24 de agosto de 2019, no campus das Faculdades Integradas de Bauru (FIB), a partir das 8h. O evento contará com palestras sobre produção da cachaça e custos de produção, legislação e mercado, ministradas por Elisangela e Raquel. No período da tarde, os alunos participarão de atividade prática, com o preparo do mosto, fermentação, destilação e análise sensorial da bebida.
SERVIÇO
Produção Artesanal de Cachaça: “Da cana ao copo”
Data: 24/08/2019
Horário: 8h às 17h30
Local: FIB – Bauru
Endereço: Rua José Santiago, quadra 15, Jardim Ferraz.
Informações: eventos.fundepag.br/pagina.
Por Fernanda Domiciano
Assessoria de Imprensa – APTA
19 2137-8933
Sobre a APTA
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, tem a missão de coordenar e gerenciar as atividades de ciência e tecnologia voltadas para o agronegócio. Sua estrutura compreende o Instituto Agronômico (IAC), Instituto Biológico (IB), Instituto de Economia Agrícola (IEA), Instituto de Pesca (IP), Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e Instituto de Zootecnia (IZ), além dos 11 Polos Regionais distribuídos estrategicamente no Estado de São Paulo.Balanço Social realizado pela Agência no biênio 2016/2017 mostrou que a cada real investido, a APTA retornou R$ 12,20 para a sociedade. As 48 tecnologias analisadas e adotas pelo setor produtivo tiveram R$ 10,9 bilhões de impacto econômico no período. Isso significa mais produtividade no campo, sustentabilidade da produção, renda para o produtor rural e alimentos de qualidade para a população.