Ouvir uma música, o cantar dos pássaros, o som do trânsito, são coisas simples do dia a dia, às quais pessoas com deficiência auditiva não têm acesso. Até sete anos atrás, era essa a realidade do servidor público federal Marcelo Neves Romcy Pereira, de 46 anos.
Marcelo teve meningite quando tinha apenas dois anos e atualmente tem surdez profunda e bilateral – mesmo com o uso de aparelho auditivo não conseguia compreender bem as falas. Durante 37 anos, se comunicou com o auxílio de aparelhos auditivos comuns, que apesar da alta tecnologia, não eram suficientes. Assim Marcelo permaneceu até 2011 quando, aos 39 anos, o servidor público recebeu um implante coclear. A cada dia, percebe melhoras e recupera, cada vez mais, sua capacidade de ouvir.
Fayez Bahmad Jr, médico do Instituto Brasiliense de Otorrinolaringologia (Iborl), explica que o implante coclear, popularmente conhecido como ouvido biônico, é um aparelho eletrônico de alta complexidade tecnológica usado para restaurar a função da audição nos portadores de surdez profunda, como Marcelo, que não se beneficiam do uso de próteses auditivas convencionais. “O procedimento consiste em um processador sonoro externo e um implante coclear interno”, exemplifica.
De acordo com o especialista, esse processador fica atrás da orelha do paciente, conectado a um fio que o liga uma antena. “Essa antena é ligada magneticamente à pele sobre a parte interna, que é um receptor cirurgicamente colocado debaixo da pele do osso temporal”, explica. Ele complementa “esse receptor tem um feixe de eletrodos que é colocado na cóclea”.
O aparelho é pequeno, mas representa uma mudança intensa na qualidade de vida dos pacientes. Desde o primeiro mês, Marcelo sentiu uma grande diferença, e a partir do sexto, começou a entender algumas palavras sem usar leitura labial. “No primeiro ano arrisquei falar no telefone, e só depois passei a atender ligações”, comenta.
O servidor público revela que ainda tem dificuldade para atender ao telefone, principalmente se a pessoa do outro lado da linha está próxima a alguma coisa barulhenta, como uma televisão, aspirador de pó ou mesmo um liquidificador.
“Fiquei mais seguro, sinto a evolução e tenho cada dia mais facilidade de compreender as pessoas, sem precisar muito de leitura labial. Aprendi novos sons que antes eu nem imaginava que existiam”, relata emocionado. Hoje Marcelo trabalha em home office, com sistemas de plano de saúde.