Dentista Flávio Nader e oncologista Rafaela Pereira alertam sobre fatores de risco, sintomas e possíveis tratamentos
Três vezes mais comum nos homens, os tumores na cavidade oral representam o quinto tipo de câncer mais comum entre os brasileiros, com 14,7 mil novos casos previstos para 2018 (11,2 mil na população masculina), matando mais de quatro mil brasileiros por ano.
As estimativas são do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Desse total de diagnósticos, 70% a 80% ocorrem em fase mais avançada da doença, resultando em pior qualidade de vida, maiores taxas de morbidade e mortalidade, maior risco de mutilação e maior complexidade no tratamento e na reabilitação do paciente.
O Brasil tem a 3ª maior incidência de câncer bucal do mundo, atrás apenas da Índia e da antiga Tchecoslováquia. Segundo um levantamento do SEER, do Ministério da Saúde dos Estados Unidos, a sobrevida em cinco anos é realidade para mais de 80% dos pacientes quando descobrem a doença no estágio mais inicial. Se há metástase, esta taxa cai para 20%.
De acordo com o dentista Flávio Nader, da Crie Odontologia, geralmente as lesões de câncer de boca aparecem como uma pequena ferida ou verruga que não cicatriza e não dói. Também pode aparecer como manchas brancas ou vermelhas que podem aparecer na mucosa das bochechas ou língua. “Já, no caso do câncer de lábio o ressecamento, perda de elasticidade, esbranquiçamento e o aparecimento de feridas podem ser sinal do início do câncer”, explica.
Segundo a oncologista clínica Rafaela Pereira da Aliança Instituto de Oncologia, o câncer de boca é causado por diversos fatores em conjunto, e hábitos como fumar e/ou consumir de bebidas alcoólicas aumentam as chances.
“Além deles, nos últimos anos, aumentou a incidência da doença associado ao vírus sexualmente transmissível HPV por meio do sexo oral. Nos lábios, a exposição aos raios UVA e UVB, sem o uso de um protetor solar adequado, também é fator de risco extra”, explica a médica.
Para o diagnóstico correto, o fundamental é um exame clínico que detecte as lesões em estágio inicial. “O dentista é o responsável pelo diagnóstico inicial e pelo encaminhamento para o oncologista, pois muitas vezes é necessário algum tipo de tratamento adjuvante à remoção cirúrgica”, esclarece Nader.
“Após o passo inicial com o dentista, parte-se para o exame endoscópico e a videolaringoscopia, a fim de avaliar possível prolongamento do tumor para essas áreas ou diagnosticar a presença de um segundo tumor primário”, esclarece a oncologista.
O tratamento para a doença alia a cirurgia de remoção da lesão, que costuma ser com grande margem de segurança, reforçando a necessidade de diagnóstico no estágio inicial. Além disso a radioterapia costuma ser utilizada como adjuvante.
Por isso, é tão importante, o trabalho em conjunto do dentista e do oncologista.
“A frequência de visitas ao dentista, quando o paciente está em tratamento de câncer (não só na boca), deve aumentar. A quimioterapia costuma diminuir o potencial imunológico, aumentando o risco de infecções mais graves.
Além disso, a radioterapia em cabeça e pescoço aumenta a possibilidade de radioosteonecrose, uma condição destrutiva muito difícil de tratar e acontece nos casos em que se tem algum tipo de infecção óssea durante o tratamento radioterápico”, conclui o dentista Flávio Nader.
Já a oncologista Rafaela Pereira reforça que, uma equipe multidisciplinar é fundamental no pré-operatório. “As consultas ambulatoriais com o oncologista são mensais nos primeiros 18 meses e passam a ser bimestrais até o terceiro ano. “A partir daí trimestral até os cinco anos e após cinco anos, semestral”, conclui Pereira.