Por Prof. Fábio Lima e Alexandre Massote, do Departamento de Engenharia de Produção do Centro Universitário FEI
O termo Indústria 4.0 foi oficialmente lançado na feira tecnológica de Hanover, na Alemanha, em 2011. Em um primeiro momento, as propostas conceituais desse novo modelo de fábrica foram vistas com certa desconfiança pelo setor industrial.
Naquela época não se tinha certeza se a proposta se tornaria realmente uma realidade ou se tratava, apenas, de mais uma estratégia comercial. Cinco anos depois, a mesma feira, em 2016, escolheu como tema principal a Indústria 4.0, deixando claro que o termo não era um modismo e sim uma nova etapa na evolução dos processos produtivos.
Desta forma, não resta mais às empresas a opção de escolha quanto a adesão à Indústria 4.0. Trata-se de um processo irreversível e gradativo.
Novos padrões de consumo em um ambiente totalmente digital
As tecnologias e conceitos associados a Indústria 4.0 são complexos e diversos. Em sua proposta final, a Indústria classificada como 4.0 deve ser totalmente conectada, digitalizada e autônoma. Para que isso aconteça, conceitos como a aprendizagem de máquina, sensores baseados em Internet das Coisas (IoT) e ferramentas de software para digitalização de processos e produtos são fundamentais.
As transformações provenientes deste modelo afetarão não somente o ambiente industrial, mas a maneira como o consumidor interage com essa nova indústria. Tem-se como proposta a chamada customização em massa.
Nesse modelo de consumo o cliente é o verdadeiro protagonista do processo produtivo, demandando da fábrica produtos personalizados em quantidade unitária. Isso corresponde a uma quebra de paradigma em termos da teoria da produção industrial, na qual produtos só poderiam ser produzidos em alto volume caso houvesse a sua padronização.
Essa inversão do caminho de protagonismo no consumo transforma o atual Business-to-Costumer (B2C), quando a empresa define como será o produto, no modelo Costumer-to-Business (C2B), onde o que será produzido é definido pelo consumidor final.
Trabalho multidisciplinar é ferramenta indispensável para a Indústria 4.0
Em todo o mundo, inclusive no Brasil, as empresas têm se questionado sobre a maneira pela qual haverá a sua adesão ao modelo de Indústria 4.0. Uma das dificuldades apresentadas nesse processo é que não há uma resposta única para todas as indústrias. Ou seja, cada empresa deverá fazer a sua própria avaliação, de acordo com as tecnologias que já são utilizadas, a sua estratégia comercial, a análise de mercado e concorrência, dentre outros fatores.
Nesse caminho de transformação, é fundamental que haja uma sinergia das empresas com os órgãos governamentais, entidades de classe e as instituições de ensino superior para intercâmbio de ideias e reflexões sobre o novo cenário.
A proposta alemã já nasceu dessa forma, com a participação fundamental da ACATECH (Academia Nacional de Ciência e Engenharia), que continuamente lança documentos que são utilizados como balizadores de conceitos e implementação da Indústria 4.0 em todo o mundo.
No Brasil, órgãos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), oMCTIC (Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações) e a CNI (Confederação Nacional das Indústrias), recentemente, apresentaram publicações a respeito da Indústria 4.0 e suas tecnologias.
E agora: o que virá?
É importante ressaltar que esse é um processo de médio e longo prazo. Uma montadora alemã, por exemplo, projeta que terá uma fábrica totalmente 4.0 implantada somente em 2030. Apesar de estarmos um pouco distantes dessa realidade, as iniciativas devem ocorrer de forma organizada e acelerada.
Em um dos últimos documentos publicados pela ACATECH (2017), a entidade chama a atenção para os níveis de maturidade da implementação de uma Indústria 4.0. Nesse documento,a digitalização e conectividade aparecem como requisitos para o início do processo.
O Centro Universitário FEI inaugurou em 2016 o Laboratório de Manufatura Digital, colaborando com a formação de estudantes para esse novo cenário e apoiando empresas no caminho de entendimento e adoção de tecnologias. Essa contribuição é fundamental, principalmente para as pequenas e médias empresas brasileiras.
Passado o momento inicial de desconfiança dos conceitos, é fundamental que transformemos as discussões em ações. As empresas que demorarem a se posicionar no mercado de forma a atender as necessidades de seus clientes nesse novo cenário estarão fadadas ao desaparecimento. Infelizmente, esse será um cenário comum no futuro próximo de muitos.
O Brasil tem potencial para acompanhar essas transformações, desde que a sinergia entre os mais diversos setores aconteça. Ninguém sobreviverá a transformação 4.0 trabalhando de forma isolada. A palavra-chave é colaboração.