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[Opinião] O Quintal Russo e as Barricadas – por Gabriel Ogata Nogueira

O Quintal Russo e as Barricadas

Eles se cansaram, foram às ruas protestar contra um governo apático, a polícia veio para calá-los. Isso poderia ser uma rotina contra a Copa no Brasil, e também tem ares de uma Rússia czarista. Mas essa é a realidade ucraniana. Seu desfecho está alguns Montes Urais de distância com o que acontece nas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro, e tem relação direta com o maior país em território no mundo.

O problema, ou estopim, começou no final de 2013, momento em que o presidente Viktor Yanukovich preteriu e entrada na União Europeia para manter acordos e subsídios da Rússia. Muito além de favorecer ao país comprador de 70% de sua produção e vendedor de uma grande parcela de gás – indispensável para se aquecer no inverno daquela região – o presidente seguiu imposições nada negociáveis do presidente Vladimir Putin.

É verdade que a U.E. não anda bem das pernas, entretanto pelos anseios da população ucraniana ainda assim era menos sofrível que se sujeitar como quintal dos russos. E entenda-se quintal tanto como um lugar para se plantar o alimento quanto para espionar os inimigos. Ou seja, após 20 anos do colapso socialista, a Ucrânia ainda é tratada como mera ‘Cortina de Ferro’, atualizando que dessa vez as ‘forças ocidentais’ é que são o problema, palavras dos dois governantes.

Descontente, a população da capital Kiev saiu dos lares aquecidos e não arredou o pé até que medidas políticas fossem tomadas. Houve massacre e truculência da segurança com a bênção do presidente, inflamado ou chantageado pelo camarada ex-KGB. Tudo seria efêmero não fosse insistência do povo contra a mesmice e a submissão escancarada à Rússia. Até escavadeiras foram usadas contra os cordões de isolamento da polícia.

O sucesso das barricadas, impedindo inclusive uma deflagração de uma guerra civil, se deve ao esclarecimento e a organização das multidões (ausente nas passeatas daqui) e acabaram desgastando e derrubando as autoridades. Primeiro o ministro Vitaliy Zakharchenko, que autorizou o chumbo para cima dos manifestantes. Depois o próprio Yanukovich. Este ainda tentou negociar acordos com o auxílio do parlamento.

Todavia, no final, nem legislativo, nem exército e muito menos representantes das potências européias ficaram ao seu lado. Até onde se sabe, ele não abandonou o país, mas emitiu nota se dizendo vítima de Golpe de Estado. Ironia?

A figura da principal opositora do governo, a premiê Yulia Timoshenko, ganhou força – uma das reivindicações do povo era sua liberdade após 30 meses de prisão por ‘abusos de poder’ – e o governo interino foi entregue ao representante parlamentar Olexandr Turchynov. Documentos com indicações de suborno e vigilância a jornalistas críticos foram encontrados nas proximidades da mansão abandonada do presidente deposto.

O país obteve poucas melhoras econômicas nos últimos anos, destaque para as riquezas minerais da cidade de Donetsk, mas o que prevalece são indústrias obsoletas, em especial metalúrgicas, com resquícios do modelo soviético de produção. O que vem pela frente? Só os próprios ucranianos em atuação conjunta poderão dizer. A única certeza é que não aceitarão Putin decidindo por eles. Quiçá Obama. 

 

[author] [author_image timthumb=’on’]http://www.guairanews.com/wp-content/uploads/2012/04/gabrielogata.jpg[/author_image] [author_info]Gabriel Carlos Ogata Nogueira é graduado em História pela Unimep (2008), pós-graduado em História do Brasil e da América no Cenário Geopolítico Contemporâneo pela Unifran (2011) e formando em Geografia pela Unifran (2012). Professor nas escolas Centro Educacional Ana Lelis Santana e Escola de Educação Básica e Educação Profissional Irum Curumim. Autor do Blog http://autoparapessoas.wordpress.com/[/author_info] [/author]