Nos Estados Unidos, o número de pessoas que adotaram seu próprio CEP como local de trabalho praticamente dobrou nas duas últimas décadas. Mas ainda há poucos estudos e muitas dúvidas sobre as vantagens ou desvantagens de se trabalhar em casa. “É o melhor dos mundos”, dizem alguns. “Você pode ficar o dia todo de moletom, não há interrupções, reuniões chatas e não se perde tempo no trânsito.” Outros consideram a experiência um inferno: “Você fica ilhado, ninguém te nota e a TV, a geladeira e a cama se transformam numa tentação o tempo todo”.
Diante das incertezas, a maioria das empresas reluta em implementar programas desse tipo. Para tirar a prova, a maior agência de viagens da China, chamada CTrip, decidiu fazer um experimento antes de optar por qualquer política para os seus cerca de 13 mil funcionários.
Um grupo de pesquisadores da universidade de Stanford foi convidado a implementá-lo. O teste deu origem ao estudo Does Working from Home Work? Evidence from a Chinese Experiment, de Nicholas Bloom, James Liang, John Roberts e Zhichun Jenny Ying. A intenção inicial da companhia era reduzir custos com locação de escritórios e evitar atritos entre funcionários e gerentes. Esses atritos, bastante comuns no seu call center, acabavam levando a uma rotatividade alta de funcionários, de 50% ao ano – e custando um bom dinheiro em recrutamento e treinamento de novos empregados. A percepção inicial por parte da empresa, contudo, era de descrença. Acreditava-se que os funcionários, ficando em casa, sem supervisão, trabalhariam menos.
Quando o teste foi divulgado, 508 empregados se interessaram em participar. Entre eles, 255 cumpriram os pré-requisitos: ter seis meses de empresa, banda larga em casa e um cômodo no qual pudessem trabalhar quatro dias por semana. Por sorteio, então, metade dos candidatos aptos foi para casa e a outra metade ficou no escritório, servindo como grupo de controle. Ambos os grupos trabalharam sob a mesma chefia, cumprindo as mesmas horas, com o mesmo equipamento, seguindo o mesmo fluxo e recebendo o mesmo tipo de remuneração. Isso permitiu isolar qualquer outro fator que não fosse o local de trabalho – estar em casa ou no escritório era a única diferença entre eles. O nível de satisfação, as condições emocionais dos empregados e sua performance foram avaliados antes de o teste começar e mais quatro vezes durante o experimento.
Ao final de nove meses de teste, alguns resultados apareceram. O mais importante deles: a produtividade do grupo que ficou em casa foi 13% maior. Por quê? Houve menos interrupções ao longo do turno, menos faltas por doença e, como o ambiente era mais calmo, os funcionários conseguiam realizar mais ligações por minuto. Nesse grupo, diminuíram também os atritos com a chefia, e os empregados relataram uma maior satisfação com o trabalho. Assim, entre cortes de custos com aluguel de espaço, aumento de produtividade e menor rotatividade, a empresa relatou um ganho de 2 mil dólares por empregado ao fim do teste – o que a levou a estender a oferta de trabalhar em casa para toda a sua força de trabalho. A CTrip deu aos empregados a chance de optar.
Metade do grupo que havia experimentado trabalhar em casa decidiu permanecer assim e continuou tendo ganhos de produtividade. Os outros 50% voltaram ao escritório. No cômputo geral, houve um ganho considerável de experiência – e ficou demonstrado que a possibilidade de escolha resultou altamente benéfica.
Em contrapartida a essa experiência, o estudo How Passive “Face Time” Affects Perceptions of Employees: Evidence of Spontaneous Trait Inference, do MIT, sugere que pode haver um impacto negativo, no longo prazo, para quem fica em casa. Segundo a pesquisa, quando os funcionários não são “vistos”, tendem a ser mais mal-avaliados, o que pode afetar suas promoções e crescimento na carreira. A questão é que, independentemente de alguém estar trabalhando ou não, o fato de ficar ali, visível, tende a ter um impacto sobre a chefia. Obviamente, será preciso mudar essa mentalidade para que ganhos de produtividade possam ser desfrutados por todos. Na CTrip, de dezembro de 2010, quando o estudo começou, até maio de 2012, entre os 255 empregados do experimento, oito dos que ficaram em casa foram promovidos, contra seis dos que estavam no escritório. Ali, comprovadamente, o pijamão só trouxe mesmo vantagens.
Matéria publicada na Revista ALFA de novembro de 2012.
fonte: ALFA