Em temporada de eleições e propagandas políticas, o que não falta na cartilha é pegar pesado. Está para se chegar a um cessar-fogo no dia 7 de outubro, se não houver segundo turno, logicamente com um vencedor e vários perdedores, na parte executiva, e a formação de gabinetes inusitados, confusos, ou talvez até justos, na parte legislativa. Mas nessa última semana, o que veio a tona é o confronto comum na história do Brasil, paralisada somente nos anos de chumbo: de um lado jornalistas que formulam perguntas incômodas, de outro políticos que se incomodam (e muito) com as indagações. Os casos ocorreram em Ribeirão Preto e São Paulo capital, não por acaso em afiliadas vinculados à Rede Globo de Televisão. E os casos podem ser analisados de forma distinta.
Na ‘California Brasileira’, a Rede EPTV entrevistaria o candidato Fernando Chiarelli (sim, o verbo está no futuro do pretérito). Conhecido por não conter papas na língua para acusar adversários políticos, dessa vez o ex-deputado pelo PDT adicionou um novo alvo por longos oito minutos. As cutucadas dadas pra cima da bancada jornalística teve insinuações, alteração do nível de voz, em que ele diferencia as funções das profissões, e tentativas de coibi-los com opiniões pré-estabelecidas, e isso tudo com um sinal da cruz antes.
A democracia dá o direito de expressão, mas o que se viu ali foi uma incitação a pegar em armas e tomar as ruas da cidade, típica de esquerdista fracassado. Pior ainda foram os aplausos que recebeu dos eleitores pela atitude. Não é questão de ser Darcy, Nogueira ou Gandini, mas manter e fineza e sutileza com propostas ou até mesmo com ataques. Se Chiarelli quer passar a imagem do arruaceiro para chegar ao poder, que tenta desde 2004, deve-se manter a calma para argumentar e mostrar conhecimento político. Vide Plínio de Arruda na última eleição presidencial. Torno a repetir que não é questão de partidarismo político, mas de conduta humana ao candidato.
Já na capital é possível afirmar que ocorreu o lado inverso da moeda. Celso Russomanno, líder disparado nas pesquisas ibope, é o prego a ser martelado. Denúncias de serviço ilegal como advogado, desvio de verbas, dentre outros, foram substituídas pela aliança que fez com a Igreja Universal. César Tralli, da SPTV, foi o encarregado de bombadear as perguntas sobre a ‘união’. Até que um determinado momento Russomanno pede ao ex-colega que mude o foco da pergunta, logo após ter sido indagado sobre um processo em que teve que indenizar uma ex-secretária laranja: “Vamos falar sobre São Paulo!”
De acordo com o TSE Russomanno não é nenhum santo, estaria longe do enquadramento Ficha Limpa, mas aproveitar o tempo de debate somente para devassar o candidato, que tudo indica tem o apoio de uma emissora rival, também não é o modelo perfeito para uma equipe jornalística esclarecer a população. Será que perguntariam, de forma exclusiva, a José Serra sobre o abandono constante da prefeitura dos tucanos para alçar ao governo de São Paulo ou do Brasil? A Fernando Haddad sobre o apoio de Maluf e a venda do ministério a Marta Suplicy? Ao possível auto-plágio de Gabriel Chalita em seu mestrado?
O ápice do jornalista é o reconhecimento heróico por desmascarar uma ameaça sorridente trajada de terno (Carlos Lacerda contra Vargas, JK e Jânio). No entanto, grande parte é passível de ter o silêncio e a opinião comprados pela corja medrosa e que paga muito bem por isso. Se hoje tem-se uma comunicação muito mais esclarecida, junto a isso aparece uma tendência implícita, capaz de manipular muito bem o eleitorado. O melhor mesmo, ainda que seja mais sádico do que esclarecedor, é o debate entre os próprios candidatos, com os profissionais da comunicação apenas mediando e controlando o tempo do processo.
[author] [author_image timthumb=’on’]http://www.guairanews.com/wp-content/uploads/2012/04/gabrielogata.jpg[/author_image] [author_info]Gabriel Carlos Ogata Nogueira é graduado em História pela Unimep (2008), pós-graduado em História do Brasil e da América no Cenário Geopolítico Contemporâneo pela Unifran (2011) e formando em Geografia pela Unifran (2012). Professor nas escolas Centro Educacional Ana Lelis Santana e Escola de Educação Básica e Educação Profissional Irum Curumim. Autor do Blog http://autoparapessoas.