Recentemente Padre Fábio de Melo se autodefiniu “barroco”, ao comparar sua personalidade com a arquitetura de Tiradentes, cidade mineira da qual gosta muito. O mesmo eu diria de sua linguagem no seu mais recente lançamento “Orfandades“.
O livro é um conjunto de contos de palavreado bem rebuscado, que trata das complexas formas de ausências na vida das pessoas. Morte de entes queridos, distância física e emocional entre familiares, dependência e descoberta de personalidades idealizadas inexistentes são maneiras do ser humano se tornar órfão.
A obra é muito madura do ponto de vista literário. O autor a cada criação reforça seu estilo próprio de escrever (é também seu jeito de falar) . Quem conhece os livros de Padre Fábio reconheceria a autoria de “Orfandades” mesmo se só lesse uma página. Coisa de grandes escritores….
Mesmo sendo fã incondicional do autor-sacerdote não me senti satisfeita com esta última leitura. Há nela muito drama, o da vida real, eu sei, mas é drama. E, talvez por uma injusta exigência, espero do padre soluções para estes dramas, coisa que não há nestes contos. Procurei respostas de Deus na vida de tantos órfãos mas não as achei. Talvez esteja mal acostumada com as palavras freqüentes de direção espiritual de padre Fábio.
Recomendo como leitura reflexiva, mas não para as férias, que exigem algo mais leve (como “Tempo de Esperas”).
por Janaína Soares Vieira Borghetti