por Janaína Soares Vieira Borghetti
Jung Chang (1952), a autora do livro acima, conta a história da sua própria vida, da de sua avó e de sua mãe, com permeios da história da China do século XX.
O que senti à primeira impressão da leitura foi opressão. Há uma riqueza cultural e espiritual imensa no povo chinês desde sempre porém, toda sua glória parece permanentemente sufocada, seja por motivos políticos ou tradição cultural. Melhor analisando, consegui enxergar a sabedoria impressa no silêncio daquelas pessoas diante do contexto de vida. “Silencio sábio” nas atitudes das familiares de Jung.
Em seu elaborado texto, a escritora faz referência ao antigo modelo imperial chinês vaidoso e cheio de caprichos que submetia a população humilde, mas o relato mais aprofundado é da China pós imperial do século XX.
As chinesas nesta época eram dadas pelos pais em casamento ou vendidas como concubinas, sendo então objeto de negociação das famílias. Viviam sob a aceitação de ser mais uma entre várias mulheres de um marido patriarcalista, sufocando qualquer sentimento contrário a tradição. Silenciosas engoliam opressão e humilhação ou nem sentiam contrariedade devido a força da tradição de então. Obedeciam a um rígido padrão de beleza, sacrificando até a deambulação com pés necróticos e malcheirosos enfaixados para se manterem pequenos.
Com a queda do imperialismo os chineses viveram um governo de caudilhos e posterior domínio do violento exército Kuomintang. Morte nas ruas e um “cale-se ” permanente fizeram a mãe de Jung Chang crescer indignada com o sistema, porém sem grande movimento de libertação visto o risco que corriam os insurretos diante dos banhos de sangue no país.
Então veio o comunismo com uma proposta de igualdade e fim da opressão. A mãe de Jung entrou para este forte sistema ideológico com muita esperança de paz. Acontece que nem ele libertou o povo chinês da tensão.
Na imposição doentia de igualdade Mao Tse Tung, o presidente da China comunista, melhorou alguns aspectos sociais, mas não fez uma economia de qualidade, sufocou ferozmente o indivíduo e a violência do pais só foi maquiada, não extinta.
Jung Chang conseguiu sair do país para estudar no ocidente, sob vigilância chinesa, mas com um pouco mais de liberdade que suas antepassadas. Pôde então escrever “Cisnes Selvagens” após ouvir horas de gravação de relatos de sua mãe.
Para nós ocidentais de gerações nascidas em sistemas democráticos, a história dos admiráveis chineses é assustadora.
Hoje não é liberada a versão integral de “Cisnes selvagens” na China, mas alguns exemplares já entraram no país através de malas de leitores e se espalham por lá.
Livro longo, um pouco prolixo, mas acrescenta muito culturalmente e emociona.
Janaína Soares Vieira Borghetti, 33 anos, médica, casada, mãe de um lindo garoto de cinco anos. Janaína não tem formação literária, apenas é aficcionada por leitura, principalmente leitura reflexiva, história e cultura (geral e religiosa). Por sua paixão pelos livros, resolveu abrir sua biblioteca pessoal e expor suas opiniões a quem se interessa por indicações literárias informais.